"Eu, Monstro" é uma antologia que desperta o monstro dentro de todos nós
- Heloysa Galvão
- 31 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Como alguns de vocês sabem, no ano de 2018 eu fui selecionada para 13 títulos antológicos, dentre eles o incrível projeto "Eu, Monstro", do Selo Obscurus, do Editorial Hope. E agora precisamos da sua ajuda pra tornar esse projeto realidade em uma campanha tudo ou nada no site Kickante!

Trata-se de uma antologia de terror que traz o monstro como protagonista, o monstro que habita dentro de cada um de nós, que espreita no escuro esperando pelo momento certo de se saciar com nossos sonhos e pesadelos.
Nela, eu participo com o conto "O Silvo do Jaraguá", um conto de terror inspirado em um dos meus medos mais infantis, que me fazia encolher na cadeira do teatro ao assistir o incrível espetáculo que é o Bumba Meu Boi, também conhecido como Boi Calemba. O protagonista desse conto é nada mais nada menos do que o Jaraguá, aquela figura um pouco engraçada, comprida e igualmente bizarra que ergue um crânio animal ao topo e roda pelo salão enquanto ressoa sua música tão conhecida. O conto se passa na cidade em que meu avô, José Arno Galvão, nasceu, Pedro Velho, interior do Rio Grande do Norte, perto de Canguaretama.
Acho que já passou da hora do folclore nordestino e do Nordeste de forma geral deixarem de ser vistos apenas em textos históricos, poesias sobre o Sertão, romances e comédias. Claro que todos esses gêneros são importantes e devem continuar a existir e persistir ao longo dos anos. Mas nossa cultura vai muito além disso, nós temos muito mais a oferecer. Podemos ser Fantasia, Ficção Científica, Terror, Drama, Ação, Mistério, tantas coisas mais. E por isso eu resolvi resgatar meu medo infantil do Jaraguá e torná-lo real. Bem, mais ou menos real. Transformá-lo em um conto de terror, uma forma que poucas pessoas viram no folclore.
Checa só o trecho degustação:
"Enquanto a mãe arrastava o menino, repreendendo-o pela cena que estava causando, ele chorava, desamparado, mas tentava acreditar que enfim tudo iria acabar. Eu desviava do povo entretido pela nova cena do Mateus e da Catirina, deslizando como o vento em frente de pupilas impressionadas. A mãe não escutava o menino, como a maioria dos adultos não escuta suas crianças. Cega pela raiva, não via o medo, enxergava apenas uma birra infantil. Mas ele não tinha medo da chinela de madeira da mãe, guardada no armário, empoeirada porque ele se comportava, sim, era bastante comportado, eu não duvidaria. Ele tinha medo de mim.
Meus olhos negros e meu manto preto desfiado como o tecido que cobre a noite, após tantas eras erguido sobre nós seguiam silenciosamente o menino, mas meus dentes continuavam a silvar o assobio que apenas o menino sabia não ser o som do vento passando pelas janelas das casas de luzes apagadas pelas quais passavam. A criança era levada para a frente, mas não deixava de olhar para trás, encarando minha figura perdida no meio da rua e que mais ninguém parecia notar. “Tec. Tec. Tec. Tec.” meus dentes vibravam na ansiedade em encontrar o suco da alma que corria junto ao sangue nas veias do moleque, estocando-se em seu coração, que batia descontroladamente, cheio de adrenalina. Eu sentia o cheiro de longe, era como a fragrância da espuma do mar, que sempre aparece quando surgem as ondas, rápidas e destemidas à frente de todo o oceano."

Quer apoiar o projeto? Você tem muitas opções no site! Acesse, você terá seu nome incluso na lista de agradecimentos, poderá receber marca-páginas, livros e até um banner com uma arte muito maravilhosa!
https://www.kickante.com.br/campanhas/antologia-eu-monstro

コメント